2020, vá em paz
Pôr sol do dia 30 de dezembro de 2020. Fiquei refletindo como o formato destas nuvens parecem um furacão em alto mar, e que o sol seria o olho. Você também acha isso? Do aspecto pessoal, fiquei pensando muitas coisas. Seria um ‘furacão’ se aproximando, com muitas coisas inesperadas vindo pela frente? Do aspecto da humanidade, seria o furacão de 2020 mostrando que ele segue firme e forte? Ou que ele vai perder forças (torcendo por esta opção). Até porque esta nuvem ficou rosa e roxa depois (esperança, eu diria).
Ontem, ao me dar conta de que a estação das chuvas está finalmente chegando por aqui, resolvi sair da minha inércia de “amanhã eu vou”, ou “no próximo final de semana eu vou”, e fui explorar uma praia ainda desconhecida para mim aqui na Califórnia. Nestas férias de fim de ano da firma, eu senti uma imensa necessidade de passar mais tempo na natureza.
Afinal de contas, foi um ano de muita tela, cimento, tempo dentro de casa, “fechada numa caixa”, mascarada. E nossa, como isso cansa, como isso limita tantas coisas do nosso ser. Aprisionou uma energia que eu nem sei explicar, estou apenas sentindo.
Me sinto muito privilegiada de morar há 50 minutos da praia, e da Highway 1 aqui na Califa. Ok, para alguém que morou em Curitiba quase a vida toda, a distância até o litoral paranaense é similar. Mas, meus recursos eram diferentes no Brasil. E se você não sabe o que é a Highway 1, procure saber sobre, e vai entender de onde vem a minha alegria de residir ‘tão pertinho’ dela.
Explorar este novo lugar, só foi possível graças a uma das conquistas mais libertadoras de 2020. Finalmente aprendi a dirigir de verdade. E isso pode parecer bem contraditório para você, que sabe o quão apaixonada eu sou por sustentabilidade, mobilidade urbana, e o uso de bicicletas.
Não me entenda mal, me explico melhor. A sensação de poder sair por aí, sozinha, sem depender de alguém, e explorar não tem preço. American lifestyle é na base do carro, transporte público é bem precário e demorado por aqui. E para explorar uns lugares destes, não rola ir de bike. Rola você levar a sua bike no carro, e então andar de bike por lá, mas não para chegar até lá.
Eu andei sozinha por 1h nos clifes, escutando o mar, sentido umas gotículas das ondas fortes que conseguiam chegar até lá em cima, parando, apreciando, e pensando muito sobre a força da natureza.
Até que cheguei numa das praias, abismada de como ainda não tinha descoberto este lugar. Olhei, apreciei tamanha beleza, e me sentei na areia, para ver, ouvir, e absorver toda a turbulência que as ondas traziam.
E também para sentir, e apenas sentir o que foi 2020, o que mudou dentro de mim, quais processos de evolução eu iniciei, quais eu fechei.
Li o segundo capítulo do livro Manifesto for a Moral Revolution: Practices to Build a Better World, da Jacqueline Novogratz. Aqui, ela fala muito sobre as fases daqueles que querem mudar o mundo (me), e impactar de verdade a vida das pessoas. Fazer disso o seu trabalho. Me assustei de pensar que tem o momento fundo do poço das frustrações que todo o processo pode trazer. Que você pode se dar conta que não ter forças para fazer isso, porque não é bem assim que o mundo funciona. Mas também me alimentei de esperanças com as histórias reais abordadas nestes capítulo, e as quais estão dando certo.
Aliás, impacto foi um dos temas que mais rondaram a minha vida em 2020. Tanto que me tornei Impact Officer no Global Shapers de Palo Alto. Está sendo uma grande jornada de aprendizado, e espero que ela continue em 2021.
Por fim, para este 2021 eu quero praticar a finitude do tempo. Tenho plena consciência que os momentos são únicos, e que eles não voltam, mas colocar isso em prática é um grande esforço para mim. Senti que este ano deixei as redes sociais roubarem um tempo muito precioso da minha vida. E isso já é uma mudança em andamento por aqui, e tem me feito muito bem.
E espero que eu consiga apreciar a jornada, independente se ela está sendo alegre ou triste. A vida não é o seu objetivo final, mas sim a caminha que fazemos para chegar até lá. É isso que nos transforma, nos alimenta, nos preenche, nos faz ser quem somos. Desgarrar da linha de chegada e me apegar no agora, e na minha caminhada.
Muita luz para vocês neste 2021!
