Toastmasters na minha vida

Elisiane Kuss Lourenco
4 min readJun 26, 2020

Desde que eu me mudei para a Bay Area, a minha vida mudou radicalmente quando o assunto é falar em público, saber se vender e networking. Estas três vertentes (vou chamar assim, porque apenas “palavra” é muito pouco para o impacto que cada uma tem) são algo extremamente importante no Silicon Valley. Muita coisa acontece neste vale, e se você nao se adapta e segue no ritmo deles, o sistema vai te engolir, e te colocar para fora.

Este texto eu vou dedicar a primeira vertente, falar em público.

Antes de tudo, eu sempre fui a crianca que apresentava trabalho, com a mão tremendo, decorava tudo, e não tinha fluidez na minha mensagem. Eu me expressava bem, mas o nervosismo era visível para todos, as mãos tremendos, e eu super acelerada falando. O feedback que eu sempre recebia era “respira”. Na faculdade não mudou muita coisa. Foi somente no último ano da graduação que eu comecei a apresentar trabalhos na frente da turma toda de uma forma mais confiante, pausando, respirando, e pensando em como passar a minha mensagem de forma coerente a minha audiência. Mas ainda tinham muitas coisas para ajustar na minha forma de falar em público.

E aí é que entra o Toastmasters na minha vida.

Eu fui devidamente apresentada a ideia do Toastmasters já fazem 4 anos, quando o então meu namorado, e hoje marido, compartilhava comigo a respeito das reuniões semanais com o grupo que ele frequentava lá em Aachen, na Alemanha. Eu ficava maravilhada com tudo o que ele me contava, mas ao mesmo tempo muito amendrotada, e este era o sentimento que predominava. Amedrontada de apenas imaginar o fato de deixar o conforto da minha casa a noite para ir encontrar pessoas que eu nunca vi na vida, e praticar oratória com eles. Acho que a educação brasileira limitou demais meus horizontes neste aspecto. Para mim, oratória você aprendia fazendo curso. E ao longo da minha educação, sempre no sistema público, nunca ouve uma aula que me ensinasse o poder de saber falar bem em público. Voltando ao Toastmasters, uma das sessões que mais me apavoravam era o Table Topics, onde um membro faz perguntas relacionadas com o tema do encontro, e então chama alguém para responder a esta questão. O objetivo aqui é falar por 2 minutos e 30 segundos no máximo de forma espontânea. Ou seja, e aprender como se sair bem quando você não se preparou para discursar. Apenas pensar que eu não poderia me preparar para responder a questão me deixava muito insegura, eu não me via articulando bem, e dando uma resposta que fizesse sentido (isso tudo no meu imaginário).

Em 2018, após participar efetivamente do meu primeiro encontro num clube de Toastmasters (o LEB, um clube aberto ao público, e que funciona dentro das instalações de Stanford), eu voltei ao Brasil determinada que ia me tornar um membro, e começar a investir meu tempo pessoal na prática da oratória. Naquela época o clube mais perto era em São Paulo (a ~400km da minha casa). Então eu posterguei este plano, até que no final de setembro do ano passado, me armei de coragem e fui novamente ao mesmo clube lá em Stanford.

A partir deste dia, a minha vida começou a se transformar. Eu me tornei um membro do LEB, e inicie meu processo de descobertas no quesito falar em público. Eu descobri que sou uma ótima avaliadora, e que em 10 minutos eu consigo organizar as minhas ideias e resumir mensagens chaves e importantes, e fornecer um feedback com impacto ao orador. Descobri como estruturar um discurso espontâneo, cativar, engajar e convencer o público quando se tem apenas 2 minutos e 30 segundos de fala. Descobri meus pontos fortes num discurso preparado, e onde aplicar minhas energias para melhorar pontos que precisam ser fortalecidos.

Toastmasters foi um investimento que eu fiz em mim mesma, e que me transformou. E eu posso falar muito mais sobre com está sendo todo este processo. Porque falar em público é uma caminhada constante, você pode se tornar um orador de excelência, mas a prática sempre deve estar presente em sua vida. Hoje em dia, quando falam “discurso, discurso,…” eu já estou com o microfone na mão, e pronta para falar.

E apenas por curiosidade, para demonstrar o impacto que fazer parte de um cluble pode ter na sua vida, eu me engajei tanto no LEB, que em janeiro de 2020 me tornei Vice-Presidente de Educação. Agora, iniciando em julho, passo a ocupar um novo cargo, como Vice-Presidente de Filiação. Além disso, eu também recebi uma proposta para ser “Area Director”. Parecia tentador, mas precisei recusar, devido a minha rotina atual.

Isso é apenas para te motivar, e dizer, que se falar em público te causa algum desconforto, o Toastmasters é um excelente recurso para te auxiliar a superar os obstáculos.

--

--

Elisiane Kuss Lourenco

Brazilian living in Germany . Passionate about sustainability and the power of transformation people have when they work together towards the same goal.